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Velho Pacotão

No final dos anos 70, reagindo ao Pacote de Abril editado por Geisel, em abril de 1977, momento de endurecimento da ditadura militar em razão da esmagadora vitória legislativa da oposição que elegera dois terços dos cargos de senadores disputados em 1974, o bloco Pacotão saiu às ruas no carnaval seguinte.

Seu Presidente eterno, Charles Preto, em homenagem ao então Diretor de Turismo do Governo do Distrito Federal, Carlos Black, que proibira o bloco, fez com que o Pacotão, insolente, desfilasse pela contramão, na avenida W3. Idosos, jovens, mulheres e crianças cantavam marchas irreverentes marcando sua insatisfação com o regime de exceção. Assim surgiu o Pacotão, bloco carnavalesco, liderado por jornalistas e composto por pessoas compromissadas com a democracia.

Neste último sábado, 28 de janeiro, no Conic, o Pacotão promoveu a seleção das marchinhas do Carnaval de 2017. Joca Pavaroti, na ausência de Charles Preto coordenava as ações escolhendo o júri, definindo a ordem de apresentação, estabelecendo o ritmo dos trabalhos. Paulão de Varadero, Não compareceu. Segundo as más línguas o dito-cujo ficou encarcerado (obra da concorrência) e só foi liberado no dia seguinte, de olhos vendados, no Beirute da Asa Sul. Mas ainda deu tempo de filar uma bóia (deliciosa feijoada) na casa do Joca, para comemorar o aniversário de Advair.

Ao final, foram escolhidas pelo Júri para o carnaval de 2017, as marchas “Banho Tcheco”, de Antônio Jorge Sales e outros, a mais votada e que trata da falta de água no DF, “Prisão Tá Cheia” do maestro Jorge Antunes em segundo lugar, versando sobre as denúncias que pesam sobre os políticos nacionais e em terceira classificação, “Juizeco” de autoria de Dr. Jadir que foca nas relações entre os poderes da República.

Alguns autores se empolgaram na crítica política e se afastaram do clima do carnaval que se empolga com marchinhas de fácil memorização, de letra curta e bem humorada.

A festa em si é maior que o concurso. É oportunidade de velhos participantes do Pacotão fazerem o aquecimento. Muita cerveja, muito chope, boa música de uma banda de profissionais, mas pouca dança. Alguns passos aqui, outros acolá.

O Pacotão não se renovou, é fato. Não angariou novos participantes. Aqueles que ousaram enfrentar a ditadura não envolveram os mais jovens na crítica à política, motivação primeira do Pacotão. Envolver ou não envolver para não desaparecer.

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Sobre
Eustáquio Ferreira

Arquiteto pós-graduado em Administração, escritor e blogueiro.

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