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Vêm as chuvas, as cigarras passam e os buracos ficam

O verão traz as chuvas que amaciam o solo. A terra macia liberta as cigarras que fazem o coro do clima ameno no planalto. O solo macio traz também os buracos nas vias. Começam as chuvas e eles aparecem. Na mesma época em que aparecem as cigarras. Eles aparecem em outras épocas. Mas o normal é vê-los por todos os lados nesta estação. Eles ocorrem predominantemente nas vias de maior movimento, aquelas onde circulam veículos pesados, mas freqüentam também as vias onde a coleta de águas pluviais ainda não chegou.

Eles, em geral, mostram no principio uma pequena depressão com linhas longitudinais, vermelhas. Em pouco tempo soltam as partes pretas do concreto asfáltico e apresentam o vermelho do cascalho da base. A maioria é circular, mas eles podem ser longitudinais, transversais e em alguns casos, os mais atrevidos, tomam a via toda.

A operação tapa-buracos inicia-se logo que eles começar a incomodar. O corriqueiro e usual é um caminhão com alguns homens equipados de picaretas, rodos, enxadas e pás. Esse é o modo mais rápido de dar resposta aos clamores dos motoristas. Com as picaretas eles cavam o material que está começando a se soltar, dão certa regularidade ao buraco e então lançam a massa asfáltica para corrigi-lo. Essa massa é feita com agregado fino, areia e brita, para facilitar o manuseio. A quantidade de material é definida na “abistunta”, no “olhometro”, e ai pode resultar uma pequena depressão ou um pequeno “murundu”. Dessa forma o buraco garante sua presença na via e será sempre notado.

Quando o buraco é maior o material pode ceder á pressão dos pneus e escoar para um lado ou para outro. Com o passar do tempo a via fica toda irregular e os carros rodam como se estivessem em estrada de terra, trepidando.

O conserto, em outras ocasiões, é um pouco melhor. Isso acontece quando o buraco cresce muito. Neste caso poderá aparecer uma turma equipada com rolo compressor, compactador de mão para a base, aspersor de ligante betuminoso e outros equipamentos. O pavimento é cortado com máquina, a base é compactada e o material é lançado com maior cuidado e depois compactado com o rolo. O resultado é bem melhor apesar de o calculo do volume do material ainda ficar a depender da experiência do profissional. Também neste caso haverá trepidação ainda que menor. Com o tempo a única maneira de remover os buracos da lembrança é fazer o recapeamento de toda a via.

Esse processo de tapar buracos é estressante e custoso, tanto para os cofres públicos como para os proprietários de veículos (suspensão, rodas, pneus etc.), repete-se todos os anos. O recapeamento ocorre com certa regularidade nas vias de trafego intenso, como aquelas onde trafegam os ônibus. Caso exemplar é o piso superior a Plataforma da Rodoviária. De tempos em tempos o piso é refeito. A última reforma foi feita pelas metades. Parte do pavimento foi executada em concreto e as outras ficaram com cobertura asfáltica. As partes com cobertura asfáltica já apresentaram inúmeros buracos e toda ela impõe trepidação. A parte pavimentada com concreto em contraste mantém-se intacta.

Várias experiências, de melhoria do manejo e implantação de vias foram feitas com êxito em momentos anteriores. É o caso da maquina de remover a cobertura asfáltica permitindo a regularização do pavimento antes do recapeamento. Lembro de outro caso, na pista que liga o Setor Policial Sul e a Estrada Parque Industrias Gráficas, quando foi adicionado cimento à laterita usada na base de modo a aumentar sua resistência á compressão. Esse trecho implantado nos anos 70 resiste até hoje.
A vias por onde trafegam os veículos de transporte coletivo deveriam receber pavimento de concreto. Não se trata de inovação. A pista que passa sob a Rodoviária –buraco do tatu – tem mais que 50 anos e se mantém em condições de uso. A pista que cruza o Eixo Monumental, em trincheira, ao lado da Catedral também tem pavimento de concreto. Está ali há 30 anos e está em boas condições. Quanto à operação tapa-buracos poder-se-ia obter ou produzir uma maquina que o fizesse mantendo a s condições originais da via. Tecnologia há e vontade de fazer o melhor, também.

As cigarras, bom elas cantam, se reproduzem e voltam para a terra. Já os buracos, permanecem enquanto chover. É uma luta insana: tapa aqui aparece ali e assim vai de outubro até maio.

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Sobre
Eustáquio Ferreira

Arquiteto pós-graduado em Administração, escritor e blogueiro.

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