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Um Palácio de Cristal para a Feira da Torre

Os pioneiros e antigos moradores de Brasília costumavam ir à noite até a fonte luminosa que existia abaixo da Torre de TV para apreciar o espetáculo de luz, volume e sons da fonte luminosa. Programa constante até o final dos anos 70. Nesta época a fonte foi removida para dar lugar aos viadutos que ligam a Asa Sul à Asa Norte. A fonte foi levada para o Parque da Cidade. Lá funcionou por pouco tempo e com público reduzido. As ultimas noticias dão conta de que seu mecanismo encontra-se sem condições de funcionamento.

Não se pode afirmar que a Feira Hippie seja remanescente daquela época. Entretanto, permaneceu o costume do brasiliense de buscar aquele local como opção de lazer.  Foram várias as tentativas de transformar a Torre de TV em opção de turismo. A vista de seu mirante, assim como ocorre com a Torre Eiffel, em Paris, deveria atrair todo turista que passa por Brasília. Essa sempre foi a esperança.

O que se observa é que a maioria dos habituais freqüentadores da Feira da Torre é residente em Brasília. É a população local que vê ali oportunidade de lazer e de satisfação de suas necessidades com a variada oferta de produtos nas mais de seiscentas barracas da feira.

Pesa contra a opção de lazer a precariedade dos serviços e da infra-estrutura, da higiene e de conforto. Faltam até bancos para descanso após as inevitáveis caminhadas por entre as barracas. As barracas de comida não têm rede coletora de esgotos ou de abastecimento de água.

Mas, ainda assim, um grande numero de pessoas aflui para aquela feira nos finais de semana. Fazem isso há quarenta anos, garantindo, desta forma, o sustento de seiscentas famílias que ali vendem seus produtos ou oferecem seus serviços.

Varias propostas de revitalização foram apresentadas em momentos diversos. Uma delas previa a transferência da feira para a área hoje ocupada pelo serviço de aluguel de helicópteros. Dizia-se que desta forma a feira deixaria de intervir na paisagem da área próxima à torre.

A Administração da Feira tentou, em determinado momento, que a ela funcionasse durante toda a semana. Esbarrou na falta de condições para produção nas próprias barracas e na falta de condições de conforto da feira.

A última proposta, de autoria dos arquitetos João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé, e Maria Elisa Costa, filha do também arquiteto Lúcio Costa, foi apresentada no final do governo passado. Pouco se sabe daquele projeto, que teria a virtude de servir de abrigo às pessoas que cruzassem o Eixo Monumental.

Seria interessante que um projeto de revitalização da Feira da Torre partisse de alguns pressupostos: capacitação dos artesãos, oferta de recursos financeiros e gerenciais aos feirantes, oferta de conforto aos artesãos, aos visitantes e aos turistas e a edificação de uma obra modelar para este tipo de atividade.

As barracas deveriam ser dotadas de energia e estivessem sob uma cobertura que minimizasse as intempéries para os feirantes e usuários. As barracas de comida, assim como as demais, deveriam contar com as mesmas facilidades cobradas do comércio regular, afinal estão ali há quase 40 anos! A edificação poderia ser efetivamente algo a contribuir para com o turismo. Algo arrojado, claro, arejado de modo a valorizar os trabalhos ali expostos.

Alguns produtos comercializados na feira poderiam ser melhorados com treinamento adequado dos artesãos. O Sebrae, que tem se feito presente entre os artesãos do Distrito Federal, como de resto em todo o Brasil,  tem designers aptos a orientar a produção, seja no resgate das cores tradicionais do artesanato nacional, no uso dos materiais e das técnicas que melhor se adéquam aos produtos ofertados. A título de exemplo ressalto a loja de jóias com sementes da Amazônia existente no Aeroporto de Brasília e que oferece peças de alta qualidade e bom gosto.

A Secretaria de Trabalho dispõe dos meios para ofertar os recursos gerenciais aos feirantes. Note-se que o Diagnostico do Setor Artesanato do Distrito Federal, elaborado pelo Sebrae em 2005 identificou bom nível de escolaridade dos artesãos da Torre o que facilita a elaboração de cursos de alto nível.

O Governo do Distrito Federal divulgou a oferta de 12 milhões de reais a serem emprestados a autônomos, micro e pequenos empresários. Os juros cobrados são menores que os de mercado e os empréstimos prevêem carências de 6 meses para inicio de pagamento. É uma medida oportuna que pode alavancar os negócios dos feirantes. Cinqüenta por cento deles tem carência de capital de giro. Neste caso a sugestão é  buscar organizações de mercado para proceder a divulgação do beneficio e a concessão do credito. São conhecidas iniciativas meritórias como esta que nunca chegam aos beneficiários por desconhecimento ou falta de traquejo dos próprios interessados em tratar com estes assuntos.

Para torná-la um local de lazer, recreação e turismo, a Feira da Torre poderia conter um palco e uma arena onde os artistas locais, músicos, mímicos, performers e outros, conhecidos ou não, pudessem se apresentar como hoje o fazem, mas com conforto para a platéia. Também seriam desejáveis espaços para outras manifestações artísticas como pintura, escultura, gravura etc.

Assim como Curitiba tem o  seu Teatro Ópera de Arame, Brasília poderia ter a Feira da Torre em um  Palácio de Cristal, ali onde estiveram as fontes luminosas e sonoras.

Jefferson Rudy

Um Palácio de Cristal para a Feira da Torre_04

Um Palácio de Cristal para a Feira da Torre

As pamonhas (com preços de R$1,00 a R$1,50, dependendo do recheio) são alternativas para o lanche.

 

Um Palácio de Cristal para a Feira da Torre_05
Teatro Ópera de Arame em Curitiba

 

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Sobre
Eustáquio Ferreira

Arquiteto pós-graduado em Administração, escritor e blogueiro.

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